II Sarau Literário do Colégio Estadual Daura Silva Barbosa


Olá, leitores!

Hoje foi dia de poesia e arte no Colégio Estadual Daura Silva Barbosa, no Bairro Biquinha, aqui na cidade de Valença. Uma festa realmente linda, com a participação efusiva dos jovens alunos e muito bem estruturada pelo corpo docente da Escola. O tema abordado pelo II Sarau Literário foi a ética. E o Clube Literário Palavras ao Vento também fez parte desse evento. 


Representando o Clube, estiveram presentes as escritoras Elayne Amorim, Jorgenete Pereira Coelho, Pit Larah e eu, além do Carlos Eduardo Ribeiro. Depois da apresentação das obras publicadas por cada uma das autoras, falamos um pouco sobre a vida e a arte de João Cabral de Melo Neto, compartilhando com os presentes alguns dos versos desse grande mestre.

Algumas curiosidades sobre o autor:

• Nasceu na cidade de Recife - PE, no dia 09 de janeiro de 1920.
• 1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono.
• O Engenheiro é publicado em 1945.
• Em 1993 recebe o Prêmio Jabuti, instituído pela Câmara Brasileira do Livro.
• Sofrendo de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que iria parar de escrever. Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria de João Cabral. 

Algumas características do autor:

Rompe com a poesia de inspiração e prega que a poesia não está no sentimento do poeta, ou na beleza dos fatos, mas na organização do texto e das palavras.

A partir de 1950, com O Cão Em Plumas, inicia um ciclo de poemas de ênfase sociológica.

Como admiradora que sou da poesia cabralina, escolhi os versos de Tecendo a Manhã, um poema que me acompanha desde muito jovem e que fascina pelo encantador jogo de palavras:


"Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão."




Pit Larah e Elayne Amorim declamaram trechos da obra prima Morte e Vida Severina:

Pit Larah:  
                             

"Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida)."


E Elayne Amorim:


“...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."


Jô Coelho ficou com os versos de O Poema, do livro O Engenheiro:

"A tinta e a lápis
Escrevem-se todos
Os versos do mundo.

Que monstros existem
Nadando no poço
Negro e fecundo?

Que outros deslizam
Largando o carvão
De seus ossos?

Como o ser vivo
Que é um verso,
Um organismo

Com sangue e sopro,
Pode brotar
De germes mortos?

O papel nem sempre
É branco como
A primeira manhã.

É muitas vezes
O pardo e pobre
Papel de embrulho;

É de outras vezes
De carta aérea,
Leve de nuvem.

Mas é no papel,
No branco asséptico,
Que o verso rebenta.

Como um ser vivo
Pode brotar
De um chão mineral?"







Apresentações musicais deram aquele toque especial ao evento e agitaram a galera, o que deixou tudo muito mais bonito e animado. Houve sorteio de livros das autoras e muitos alunos declamaram poemas. 





Enfim, mais um evento super bacana, dedicado a espalhar cultura, poesia e arte em nossa cidade, onde o Clube Literário Palavras ao Vento marcou presença.


Logo, logo, mais novidades vão pintar  por aqui. Até o próximo evento!


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