Mario Quintana
"Olho em redor do bar em
que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"
Mario de Miranda Quintana
nasceu na cidade de Alegrete (RS), no dia 30 de julho de 1906.
Um dos grandes nomes de nossa Literatura, foi escritor,
poeta, jornalista, tradutor. Durante sua vida traduziu muitas obras da
literatura mundial. Entre as mais importantes, traduziu “Em busca do tempo
perdido” de Marcel Proust e “Mrs. Dalloway” de Virgínia Woolf.
Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
(Prosa e Verso, 1978)
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
(Prosa e Verso, 1978)
Pertencente
ao nosso movimento modernista, Quintana demonstra em seus poemas um lirismo puro e raro em nossa poesia
moderna.
Ele
possui uma linguagem simples, ao mesmo tempo altamente poética, a abordar o
cotidiano, a amizade, o amor, a morte, dentre outros temas.
A Rua dos
Cataventos
Da vez
primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos
meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde!
Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Aves da
noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
DA ARTE PURA
Dizem
eles, os pintores, que o assunto não passa de uma falta de assunto: tudo é
apenas um jogo de cores e volumes. Mas eu, humanamente, continuo desconfiando
que deve haver alguma diferença entre uma mulher nua e uma abóbora.
Os Poemas
Os poemas
são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando
fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
Envelhecer
Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
Agora todos os caminhos vêm
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
Falece,
em Porto Alegre, no dia 5 de maio de 1994, próximo de seus 87 anos, o poeta e
escritor Mario Quintana.
Pequeno Poema Didático
O tempo
é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.
A vida é
indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconsequente conversa.
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconsequente conversa.
Todos os
poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre…
Todas as horas são horas extremas!
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre…
Todas as horas são horas extremas!
Escreveu Quintana:
"Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas...
Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira".
E, brincando com a morte: "A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos".
E, brincando com a morte: "A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos".
Queridos amigos e leitores, ler Mario Quintana é muito bom! Uma deliciosa poesia...
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre esse poeta e escritor, acesse:
http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp
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